Menos da metade das negociações entre patrões e empregados resultou em reajustes de salários com ganho superior à variação da inflação em 2019. A proporção despencou de 75,5% de correções acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) em 2018, para 49,4% no ano passado, devido à aceleração do indicador na passagem de um ano a outro. Em 2020, a dificuldade de obter reajustes maiores do que a inflação deve se manter.

Entre as 49 categorias profissionais, apenas 25 conseguiram algum aumento real em 2019. Das 27 unidades da federação, somente 12 registraram reajustes acima da inflação, segundo o boletim Salariômetro da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

“Embora, em termos históricos, a inflação de 2019 tenha sido pequena, ela foi maior do que a de 2018. Isso reduziu o espaço para ganhos reais”, diz Hélio Zylberstajn, coordenador do boletim. A inflação média em 2018 foi de 2,9%, subindo a 3,8% no ano passado, considerando o INPC acumulado em 12 meses, referência para as correções salariais.

Em dezembro, o reajuste mediano ficou em 3,4%, em linha com a inflação do período. A correção, que não resultou em ganho real aos trabalhadores, interrompeu sequência de seis meses de reajustes acima da inflação, como resultado do repique inflacionário no fim de ano, devido à alta no preços das carnes por conta da gripe suína chinesa.

Segundo Zylberstajn, a menor proporção de reajustes acima da inflação no ano passado foi de alguma maneira compensada por benefícios maiores, como vale-alimentação, adicional de hora extra e banco de horas. A frequência desses itens nas negociações fechadas cresceu na passagem de 2018 para 2019, o que, conforme o professor, indica mais conquistas nessas áreas.

O número de negociações concluídas mostrou alguma recuperação em 2019, após queda abrupta em 2018, como resultado de impasses gerados pela reforma trabalhista, que entrou em vigor em novembro de 2017. As negociações somaram 29,4 mil em 2019, acima das 28,9 mil do ano anterior, mas ainda abaixo das 34,8 mil de 2017. De acordo com Zylberstajn, a questão da contribuição sindical, cuja obrigatoriedade foi extinta pela reforma da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), continua sendo o principal impasse nos acordos e convenções coletivas.

Foram 23 os acordos com redução de jornadas e salários em 2019, abaixo dos 58 do ano anterior e dos 390 do pico registrado em 2016, auge da recessão. “Essa alternativa foi usada até se esgotar. Como a recessão foi muito prolongada e a recuperação está sendo muito difícil, esse caminho foi abandonado”, diz o pesquisador da Fipe.

Para 2020, as perspectivas para as negociações salariais são pouco animadoras, avalia Zylberstajn. “No geral, deve ser tão difícil quanto o ano passado, pelo menos.”