O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central informou nesta terça-feira (25), por meio da ata de sua última reunião – ocorrida na semana passada, quando os juros permaneceram na mínima histórica de 6,5% ao ano – que o Produto Interno Bruto (PIB) “deve apresentar desempenho próximo da estabilidade no segundo trimestre”.

Com isso, o BC não afasta a possibilidade de uma nova recessão na economia brasileira, uma vez que o PIB registrou tombo de 0,2% nos três primeiros meses deste ano, na comparação com o último trimestre do ano passado. Dois trimestres seguidos de queda no PIB representam recessão técnica.

“Indicadores recentes da atividade econômica indicam interrupção do processo de recuperação da economia brasileira nos últimos trimestres. O cenário do Copom contempla retomada desse processo adiante, de maneira gradual”, informou o BC.

Acrescentou que a economia segue operando com “alto nível de ociosidade dos fatores de produção, refletido nos baixos índices de utilização da capacidade da indústria e, principalmente, na taxa de desemprego”.

Inflação e juros

Em um cenário de baixo nível de atividade, o Copom informou que suas projeções contemplam a inflação “em torno da meta” mesmo com redução da taxa básica de juros da economia em 2019, para 5,75% ao ano, e elevação no ano que vem – para 6,5% ao ano.

Para 2020, a meta central de inflação é de 4%, conforme fixou o Conselho Monetário Nacional (CMN). O IPCA pode oscilar entre 2,5% e 5,5% sem que a meta seja descumprida.

“Os cenários com taxas de juros constantes [em 6,5% ao ano, patamar atual] produzem inflação um pouco abaixo da meta para 2020, enquanto os cenários com trajetória de juros extraída da pesquisa Focus, que embutem provisão de estímulos monetários adicionais [redução da taxa Selic para 5,75% ao ano no fim de 2019 e aumento no ano que vem], produzem inflação em torno da meta”, informou o Banco Central.

Deste modo, a instituição deixou a porta aberta para redução da taxa básica de juros nas próximas reuniões. Até momento, a aposta de grande parte do mercado, segundo pesquisa feita com mais de 100 instituições financeiras na semana passada, é de que a taxa Selic comece a cair em meados de setembro próximo.

Reformas

Apesar da sinalização de que há espaço para promover redução dos juros básicos da economia nos próximos meses, por conta da fraqueza da atividade econômica, o Copom ponderou que a continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia.

“Todos [membros do Copom] concordaram que o balanço de riscos [para a inflação] evoluiu de maneira favorável. Não obstante, ressaltaram que a consolidação do cenário benigno refletido nas expectativas de inflação e nas projeções condicionais acima reportadas depende do andamento das reformas e ajustes necessários na economia brasileira, que são fundamentais para a manutenção do ambiente com expectativas de inflação ancoradas”, avaliou o Banco Central.

O Copom acrescentou que uma “eventual frustração das expectativas sobre a continuidade dessas reformas e ajustes pode afetar prêmios de risco [elevar os juros de mercado] e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária [neste e no próximo ano]. O Comitê avalia que, neste momento, esse é o fator preponderante em seu balanço de riscos”, acrescentou a instituição.

Crescimento

Em palestra na Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) na manhã desta terça-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o processo de crescimento está em revisão, para baixo, em vários países do mundo.

Segundo ele, isso seria uma consequência de tensões comerciais. “O crescimento mundial vem sofrendo queda”, declarou ele.

No Brasil, Campos Neto disse que o “nível de ociosidade elevado [da produção] pode continuar produzindo trajetória prospectiva [previsão para a inflação] abaixo do esperado”. Ao fim do evento, mesmo questionado por jornalistas, ele não quis falar sobre a possibilidade de recessão na economia brasileira.

Por conta do baixo nível de atividade na economia mundial, Campos Neto disse que a expectativa para as taxas de juros nos Estados Unidos, na Inglaterra e na Europa também está recuando. “Isso mostra que o mudo começou a entender que a gente vai para uma trajetória de juros mais baixos”, acrescentou.

Ele observou que, também no Brasil, as taxas de juros mais longas (curva de juros prevista pelo mercado financeiro em contratos) têm apresentado “queda considerável”.

O presidente do BC repetiu a avaliação contida na ata do Copom, divulgada nesta terça, de que uma “eventual frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante” para a definição da taxa de juros.

Informações G1