Com fluxos de comércio em contração, China perdendo fôlego e risco de recessão em algumas nações, Brasil terá que contar que empresas e famílias brasileiras voltem a acreditar na economia

A desaceleração da economia mundial e o risco de recessão em países desenvolvidos aumentam a tarefa do Brasil de retomar crescimento por meio da recuperação da confiança interna dos empresários e das famílias no País.

Com a guerra comercial diminuindo os fluxos de comércio e com a economia chinesa perdendo fôlego, o potencial de expansão do Brasil via comércio exterior tem se enfraquecido. Até mesmo a entrada de capital externo vai ficar mais difícil.

“Sob esse ponto de vista, o programa de privatizações [do Ministério da Economia] parece não ter vindo em boa hora”, ressalta o professor de finanças do Insper, Alexandre Chaia. Ele explica que os investidores externos tendem a adiar as suas decisões até que a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos (EUA) tenha mais definição.

Chaia explica que, mesmo que os dois países estejam implementando barreiras tarifárias bilateralmente, não está claro se haverá um rompimento total entre eles ou com quais nações e blocos os dois irão se realinhar.

“Portanto, a retomada da economia brasileira dependerá mais, agora, da melhora da confiança do mercado local”, afirma Chaia. Isso virá, segundo ele, das reformas estruturais e microeconômicas, como a reforma da Previdência Social, do sistema de tributação e ações para melhorar o ambiente de negócios, como a Medida Provisória da Liberdade Econômica (MP).

Para Chaia, isso será importante até para que os empresários brasileiros se interessem nas privatizações do governo. Nas projeções dele, se o governo conseguir recuperar a confiança das empresas por meio dessas reformas, o Brasil pode voltar a crescer mais, por volta de 2,5% em 2020. “Se o mundo estivesse em um bom momento, o País poderia expandir até 4%”, diz o professor do Insper.

Segundo estimativas do Itaú Unibanco, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial deve desacelerar de um crescimento de 3,7% registrado em 2018, para 3,2% este ano e cair para 3,0% em 2020. Já o PIB dos EUA deve ir de 2,9% em 2018, para 2,2% este ano e registrar alta de 1,5% em 2020.

A Zona do Euro, por sua vez, que registrou expansão de 1,8% em 2018, deve ter alta de 1,0% nos anos de 2019 e 2020. Já o Japão deve crescer próximo de zero em 2019 (0,8%) e em 2020 (0,4%).

Taxa de câmbio

Diante desse cenário, o professor de economia da Universidade de Brasília (UNB), José Luis Oreiro, comenta que o Brasil terá que conviver com crescimentos mais baixos e com o dólar mais alto. Ele estima que a taxa de câmbio deve subir para cerca de R$ 4,30, R$ 4,50, nas próximas semanas.

“Há uma perspectiva de piora das contas externas provocada pela redução da balança comercial e da saída de capitais do País, em meio ao cenário de aversão ao risco”, comenta Oreiro. Ele explica que, mesmo que o patamar da taxa básica de juros (Selic) do Brasil esteja mais elevado do que em outros países, os investidores preferem alocar recursos em economias mais seguras em momentos de risco, como em títulos do Tesouro americano.

“Além disso, alguns países podem entrar em recessão. Isso pode ocorrer na Alemanha neste segundo semestre”, acrescenta Oreiro. Por esses motivos, ele avalia que o Banco Central (BC) do Brasil precisa diminuir mais a taxa de juros, como forma de estimular a economia. “Isso não será um problema, pois a inflação está baixa e as empresas estão com uma capacidade ociosa muito elevada”, observa Oreiro.

Já o professor de economia da FAAP, Orlando Assunção Fernandes, afirma que, seja no Brasil ou no mundo, a atividade econômica não tem conseguido reagir à política monetária como em períodos anteriores. Ele lembra que, desde a crise financeira de 2008, os BCs de países desenvolvidos têm praticado uma política monetária estimulativa – em alguns casos, até implementando taxas negativas, como na Europa e Japão.

Na avaliação de Fernandes, um dos diversos entraves para que a atividade consiga reagir é a dificuldade que as pessoas estão tendo de confiar na economia. “Diante do alto desemprego, as pessoas preferem não tomar crédito, por exemplo, mesmo que os juros estejam baixos e que a pessoa tenha emprego. Isso acontece, porque não há confiança sobre o futuro”, conclui Fernandes.